Com alta de casos e mortes por Covid-19, caos no sistema de saúde segue de Manaus para o resto do Amazonas e a fronteira com o Pará, onde sete pessoas de uma mesma família morreram por falta de oxigênio em apenas um dia. País tem 211.646 óbitos, 63,5 mil novos casos e agora soma 8,5 milhões de infecções. Média móvel de casos subiu 49% em comparação à de duas semanas atrás enquanto a de óbitos cresceu 33%. Pior da pandemia está por vir, alertam especialistas.
As tratativas para aquisição de insumos da China para a produção de vacinas no Brasil e de doses prontas da vacina Oxford/AstraZeneca estão emperradas, ao contrário do vírus da Covid-10, que avança, implacável, pelo país. O colapso do sistema de saúde em Manaus começou a se espalhar pelo estado do Amazonas, cruzando a fronteira com o Pará, onde, no município de Faro, sete pessoas da mesma família morreram por falta de oxigênio em 24h. Especialistas alertam que o pior da pandemia ainda está por vir.
A situação também é crítica no Rio de Janeiro e em São Paulo, que ultrapassou a marca de 50 mil mortos. Nesta terça-feira (19), o consórcio de veículos de imprensa registrou 1.183 mortes e 63,5 mil novos casos da doença. A média móvel de óbitos e de infecções diárias subiram 33% e 49%, respectivamente, em comparação à média de duas semanas atrás. Treze estados registram alta de mortes, segundo levantamento do consórcio.
A tendência de infecções deve continuar alta. Segundo o Imperial College, em boletim divulgado na terça-feira (19), a taxa de contágio, o RT, está em 1,20, o que é classificado como fora de controle. A universidade de Londres prevê que o país registrará 8,5 mil óbitos por Covid-19 até 26, um aumento de 1,7 mil óbitos em relação à última semana.
Agravamento da pandemia em 2021
“Estamos num momento bem preocupante. Talvez as pessoas não estejam percebendo ainda, mas tudo indica que as próximas semanas serão complicadas”, advertiu o bioinformata Marcel Ribeiro-Dantas, pesquisador do Institut Curie, na França, à revista ‘Época’.
Para os especialistas, o atraso nas notificações de casos e mortes e mesmo casos fora do radar, podem passar uma falsa sensação de que a pandemia se aproxima do fim. Principalmente porque há um cansaço generalizado e um desgate psicológico causado por longos períodos de quarentena e restrições.
“E isso ajuda a vender uma retórica que agrada algumas pessoas. Quantas vezes já ouvimos gente anunciar que a pandemia estava chegando ao fim? Que teríamos uma queda dos casos e mortes a partir da próxima semana?”, indagou Ribeiro-Dantas, do Institut Curie, também em depoimento ao site da revista.
No estado de São Paulo, que bateu a marca de 50 mil vítimas fatais em decorrência da doença na terça-feira (19), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, também traçou um cenário de agravamento do surto em 2021, caso as imunizações não avancem e medidas de prevenção não sejam seguidas.
Segundo a ‘Folha, de S. Paulo’, Covas também disse que será inevitável a mudança para a bandeira vermelha em São Paulo, que representa um risco muito alto para o contágio da Covid-19. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, a região metropolitana de São Paulo está atualmente na fase amarela do Plano São Paulo. A única região na fase vermelha é Marília.
Solidariedade da Venezuela
O carregamento de 107 mil m³ de oxigênio doados pelo governo da Venezuela finalmente chegou à Manaus na noite de terça-feira (19). Houve registro de populares aplaudindo o comboio de caminhões enquanto atravessava municípios brasileiros. Nesta quarta-feira (20), a presidenta Nacional do PT e deputada federal Gleisi Hofmann (PR) agradeceu o governo da Venezuela pelo gesto humanitário.
“Estive na Embaixanda da Venezuela para agradecer a solidariedade do governo e do povo Venezuelano na crise do oxigênio de Manaus”, afirmou Gleisi, pelo Twitter. “Boa conversa com Irene Rondón, encarregada da embaixada, sobre outras ações solidárias da Venezuela, que se dispõe a enviar médicos para ajudar atender a população do Amazonas”, explicou a deputada.
No final de semana, após a confirmação do envio pelo presidente Nicolás Maduro, operários da Siderúrgica do Orinoco Alfredo Maneiro (Sidor), a maior produtora de aço da Venezuela, enviaram uma mensagem de solidariedade ao Brasil.
“Como classe trabalhadora temos o orgulho de saber que, com o fruto do nosso esforço, vamos contribuir para salvar vidas dos irmãos que apresentam Covid-19 em Manaus, como parte dos acordos de Diplomacia da Paz dirigidos pelo presidente Nicolás Maduro”, afirmaram os trabalhadores.
Caráter humanista
“Estamos demonstrando o caráter humanista do nosso país, do governo Bolivariano, ao produzir não só aço, mas também o oxigênio necessário para contribuir com a recuperação dos pacientes de Covid-19 que estão sendo atendidos nos hospitais de campanha de nossa Pátria”, disse o presidente da Sidor, Néstor Astudillo.
“Assim mesmo, estamos assumindo a missão de entregar por instruções do presidente da República, Nicolás Maduro Moros, de nosso ministro, Tareck El Aissami, o oxigênio para apoiar a situação que o Brasil está enfrentando, especificamente Manaus”.
Bolsonaristas usam redes para espalhar fake news
A rede bolsonarista tratou de agir rapidamente pelo esgoto subterrâneo da internet para tentar desacreditar o governo venezuelano. Diversas publicações nas redes sociais disseminaram informações falsas afirmando que o oxigênio não é da Venezuela, mas, sim da empresa White Martins. As postagens foram desmentidas por sites de checagem de fatos, como o do jornal ‘Estado de S. Paulo’.
Da Redação, com informações de ‘G1’, ‘Folha’ e ‘Época’